Com um produto mais barato, a Índia deve desbancar os Estados Unidos do terceiro lugar no ranking dos maiores exportadores mundiais de carne bovina, mercado que também inclui a de búfalos
Dados divulgados na quinta-feira pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) mostram que os embarques indianos deverão crescer 16% em 2012, para 1,275 milhão de toneladas, acima das 1,25 milhão de toneladas que tendem a ser embarcadas pelos americanos.
A taxa de avanço indiano é também três vezes superior que a das exportações globais, segundo o órgão americano. Com uma população massivamente vegetariana, a Índia tem um baixo consumo interno de carne e um crescente rebanho de búfalos que suprem a demanda por produtos lácteos do país.
Assim, a carne dos animais abatidos é vendida a clientes do Oriente Médio, do Norte da África e da Ásia, que têm no preço o principal fator de compra, afirma Fernando Sampaio, diretor-executivo da Associação Brasileira dos Exportadores de Carnes (Abiec). "A Índia é um concorrente importante, mas é difícil saber o quanto eles vão avançar e afetar o Brasil", acrescenta Sampaio, destacando que os clientes da Ásia e do Oriente Médio representam, pelo menos, um terço das exportações brasileiras.
Os diferenciais indianos estão no posicionamento geográfico estratégico, que permite um menor custo de frete, e no próprio preço da carne, que é menor, explica o zootecnista Gustavo Aguiar, analista da Scot Consultoria.
A estimativa da Abiec é de que a carne indiana chegue ao Oriente Médio a um custo de cerca de dois terços do mesmo corte brasileiro - ou até menos -, segundo Sampaio. A questão cambial no Brasil também é um fator redutor de competitividade, acrescenta ele.
A Índia, afirma, está muito presente no mercado de carne desossada. Esta é congelada e muito utilizada na fabricação de embutidos e carnes moídas por indústrias que buscam produtos de baixo custo e podem trabalhar com qualidade menor.
Apesar de a Índia ser um concorrente que não pode ser desprezada, explica Sampaio, é difícil avaliar até que ponto ele sustenta sua posição como grande exportadora do produto. "O nível de sanidade da carne da Índia é equivalente ao nível do produto brasileiro há 50 anos", compara o executivo. No ano passado, informa ele, um carregamento do país asiático para o Egito foi suspenso porque foi encontrada cisticercose viva.
Segundo relatório do USDA, as exportações globais de carne em 2012 vão crescer 4,6%, para 8,2 milhões de toneladas. Além da Índia, que vai liderar esse avanço, também devem aumentar os embarques o Brasil - de 1,325 milhão de toneladas para 1,375 milhão -, a líder mundial Austrália (de 1,350 milhão de toneladas para 1,380 milhão), e, em menor dimensão, os EUA (de 1,241 milhão para 1,25 milhão).
Apesar do previsto crescimento dos embarques brasileiros no ano que vem, o país ainda está muito longe de recuperar o patamar de 2007, quando foram exportados 2,189 milhões de toneladas de carne bovina. As restrições impostas pela União Europeia - naquele momento um dos principais clientes do Brasil -, a retração do consumo no pós-crise de 2008 e barreiras da Rússia se somaram para reduzir em 38% o volume das exportações brasileiras em três anos.
Publicada Em: 04/11/2011
Valor Econômico | Fabiana Batista
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